O Brasil conta, atualmente, com aproximadamente 320 unidades produtoras de
açúcar e álcool. Isso representa uma capacidade instalada para o processamento
de mais de 430 milhões de toneladas de cana, o que pode resultar na produção de
até 18 bilhões de litros e 29 milhões de toneladas de açúcar. Na atual safra
deverão ser processadas aproximadamente 390 milhões de toneladas de cana,
atingindo 27,5 milhões de toneladas de açúcar e 16,7 bilhões de litros de
álcool. Além disso, deverão ser gerados aproximadamente 3 GWh de energia
elétrica, durante as 4.000 horas de funcionamento médio dessas usinas, dos quais
quase 90% utilizados para auto-consumo.
açúcar e álcool. Isso representa uma capacidade instalada para o processamento
de mais de 430 milhões de toneladas de cana, o que pode resultar na produção de
até 18 bilhões de litros e 29 milhões de toneladas de açúcar. Na atual safra
deverão ser processadas aproximadamente 390 milhões de toneladas de cana,
atingindo 27,5 milhões de toneladas de açúcar e 16,7 bilhões de litros de
álcool. Além disso, deverão ser gerados aproximadamente 3 GWh de energia
elétrica, durante as 4.000 horas de funcionamento médio dessas usinas, dos quais
quase 90% utilizados para auto-consumo.
Embora os números pareçam gigantescos, há necessidade de grandes investimentos
para atender ao crescimento das demandas interna e externa. A alta do petróleo,
combinada com a difusão dos veículos flex-fuel levam a estimativas de
crescimento da ordem de 1,5 GL.ano-1, no consumo interno de álcool combustível,
o que representa uma demanda estimada em 25 GL para 2013. Agregando-se o volume
previsível para a exportação, é factível imaginarse uma oferta total de
etanol próxima a 30 GL para 2015.
A situação não é muito diferente no mercado de açúcar, concorrencial com
o etanol pela mesma matéria prima. O crescimento do consumo mundial, no
patamar próximo de 2% ao ano já abriria espaços para o aumento da participação
brasileira no mercado. Entretanto, a ele devem se somar as expectativas de
redução da produção na União Européia (ajustes tanto em relação à OMC quanto às
diretivas do Protocolo de Quioto), e em outros países que estão investindo na
produção do álcool combustível, sem condições de incrementar a produção
agrícola. Desta forma, estima-se que, em 8 anos, o Brasil deverá exportar 25
milhões de toneladas anuais, somadas a um consumo interno próximo de 11,5
milhões de toneladas.
A consolidação dessas expectativas quanto dever representar uma demanda por
220 milhões de toneladas de cana adicionais, que deverão ser atendidos com a
ampliação de algumas unidades e a implantação de pelo menos 60 novos projetos de
médio porte. Há a necessidade de incorporação de 3 milhões de hectares de novas
áreas, mas esse não é o maior problema, uma vez que a cana ocupa apenas 10% da
área agrícola atual e há uma grande disponibilidade de terras agricultáveis por
serem incorporadas. Os principais motivos de preocupação são a concentração
espacial da produção e a falta de interesse pela busca de maior eficiência
energética por parte das unidades produtoras.
Em relação à concentração espacial, embora a Região Centro-Oeste e o
Meio-Norte (Estado de Tocantins e sul dos Estados do Maranhão e Piauí),
apresentem grande potencial, São Paulo continua absorvendo a maioria dos
investimentos. Dos 40 projetos em fase de implantação 25 estão naquele Estado,
que já tem mais da metade de suas áreas de lavouras ocupadas com a cana. Os
novos projetos se concentram na região oeste do Estado, invadindo áreas
tradicionais de pecuária.
Da mesma forma, Minas Gerais, o Estado que registra as maiores taxas de
crescimento do setor, vê os novos projetos sendo implantados no Triângulo
Mineiro, praticamente numa extensão à fronteira de produção paulista. Essa busca
por regiões melhor dotadas de infra-estrutura leva ao surgimento de grandes
extensões de lavouras em regime de monocultura, cujos impactos sócio-ambientais
precisam ser avaliados com maior profundidade.
O segundo problema está relacionado ao cenário amplamente favorável para o
açúcar e álcool, levando os empresários do setor a investirem mais no aumento da
capacidade de processamento do que na maior eficiência energética. Isso vale
tanto para as unidades já instaladas quanto para os projetos em fase de
implantação. A maior rentabilidade dos produtos tradicionais, combinada com os
pesados custos dos investimentos em tecnologias mais eficientes para a
co-geração de energia elétrica, tem deixado esse novo negócio em segundo
plano.
Outros dois fatores ajudam a explicar a baixa atratividade dos investimentos
na co-geração de energia elétrica. O primeiro é a falta de experiência com esse
novo negócio, o que dificulta, inclusive, o relacionamento com os clientes. O
segundo, não menos importante, está associado aos custos mais elevados para
tecnologias mais eficientes. Isso tem levado à opção por tecnologias
intermediárias, com caldeiras de 40 ou 60 quilos de vapor, que apresentam
maiores taxas de retorno e menor necessidade de capital imobilizado. O problema
é que como são equipamentos de ciclo de vida relativamente longo, as unidades
poderão passar décadas sub-aproveitando as potencialidades do bagaço.
Desse modo o grande potencial que se abre para o setor requer uma ação
efetiva do Governo no sentido de, estrategicamente, fomentar os investimentos de
forma a contemplar tanto a reversão do processo de concentração espacial da
produção, quanto a busca da maior eficiência energética nos novos projetos e a
modernização das unidades já em operação.
De um lado, são imprescindíveis os investimentos em infra-estrutura,
aumentando a atratividade da implantação de projetos fora das áreas
tradicionais. Destaca-se aí a conclusão dos investimentos no Corredor Norte Sul,
que poderá permitir a consolidação da agroindústria sucroalcooleira como uma
excelente alternativa para os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, que estão
entre os mais pobres do país.
Do outro a oferta de linhas especiais de
crédito também deve funcionar como indutor de investimentos, aliado à captação
de recursos internacionais. A diferenciação deve contemplar tanto a
possibilidade de incentivos regionais quanto o fomento à utilização de
tecnologias mais eficientes. Os Governos Estaduais, também interessados diretos,
devem ser envolvidos no programa, trabalhando de forma harmônica com o Governo
Federal.
Caso seja atingida a meta de processamento de 610 milhões de toneladas de
cana na safra 2012/13, além da oferta de 36,5 milhões de toneladas de açúcar e
27,4 bilhões de litros de álcool, haverá uma disponibilidade de mais de 160
milhões de toneladas de bagaço. Se todo ele for queimado em caldeiras de alta
pressão, poderá gerar o equivalente a 66 GW de energia elétrica, ou seja, 16,5
mil mega-watts/hora, durante as 4.000 horas médias anuais de safra. Esses
números podem ser ainda mais surpreendentes se considerado o aproveitamento das
palhas e pontas, cuja sua grande maioria ainda é queimada nos canaviais.
Cabe destacar, no entanto, que a produção de energia elétrica é apenas uma
das alternativas. Tal como a gaseificação, que eleva substancialmente a
eficiência da queima do bagaço, alternativas como a produção do álcool por
hidrólise lignocelulósica e até mesmo a produção de biodiesel estão em estudos.
Para alguns especialistas, a melhor remuneração paga pelo mercado de
combustíveis líquidos pode estimular algumas usinas a utilizarem o bagaço para
essas duas finalidades, recorrendo ao gás natural como fonte de energia para o
seu funcionamento.
Esse conjunto de alternativas precisa ser bem avaliado pelos órgãos de
governo. Como são tecnologias novas, com alto custo de implantação e longo prazo
de maturação, é fundamental minimizar os riscos para o investimento privado e,
ao mesmo tempo, maximizar a eficiência dos projetos de investimento. Mecanismos
de mercado, especialmente num sistema de preços livres, podem levar à tomada de
decisões de curto prazo que não reproduzam as melhores alternativas estratégicas
para o país.
para atender ao crescimento das demandas interna e externa. A alta do petróleo,
combinada com a difusão dos veículos flex-fuel levam a estimativas de
crescimento da ordem de 1,5 GL.ano-1, no consumo interno de álcool combustível,
o que representa uma demanda estimada em 25 GL para 2013. Agregando-se o volume
previsível para a exportação, é factível imaginarse uma oferta total de
etanol próxima a 30 GL para 2015.
A situação não é muito diferente no mercado de açúcar, concorrencial com
o etanol pela mesma matéria prima. O crescimento do consumo mundial, no
patamar próximo de 2% ao ano já abriria espaços para o aumento da participação
brasileira no mercado. Entretanto, a ele devem se somar as expectativas de
redução da produção na União Européia (ajustes tanto em relação à OMC quanto às
diretivas do Protocolo de Quioto), e em outros países que estão investindo na
produção do álcool combustível, sem condições de incrementar a produção
agrícola. Desta forma, estima-se que, em 8 anos, o Brasil deverá exportar 25
milhões de toneladas anuais, somadas a um consumo interno próximo de 11,5
milhões de toneladas.
A consolidação dessas expectativas quanto dever representar uma demanda por
220 milhões de toneladas de cana adicionais, que deverão ser atendidos com a
ampliação de algumas unidades e a implantação de pelo menos 60 novos projetos de
médio porte. Há a necessidade de incorporação de 3 milhões de hectares de novas
áreas, mas esse não é o maior problema, uma vez que a cana ocupa apenas 10% da
área agrícola atual e há uma grande disponibilidade de terras agricultáveis por
serem incorporadas. Os principais motivos de preocupação são a concentração
espacial da produção e a falta de interesse pela busca de maior eficiência
energética por parte das unidades produtoras.
Em relação à concentração espacial, embora a Região Centro-Oeste e o
Meio-Norte (Estado de Tocantins e sul dos Estados do Maranhão e Piauí),
apresentem grande potencial, São Paulo continua absorvendo a maioria dos
investimentos. Dos 40 projetos em fase de implantação 25 estão naquele Estado,
que já tem mais da metade de suas áreas de lavouras ocupadas com a cana. Os
novos projetos se concentram na região oeste do Estado, invadindo áreas
tradicionais de pecuária.
Da mesma forma, Minas Gerais, o Estado que registra as maiores taxas de
crescimento do setor, vê os novos projetos sendo implantados no Triângulo
Mineiro, praticamente numa extensão à fronteira de produção paulista. Essa busca
por regiões melhor dotadas de infra-estrutura leva ao surgimento de grandes
extensões de lavouras em regime de monocultura, cujos impactos sócio-ambientais
precisam ser avaliados com maior profundidade.
O segundo problema está relacionado ao cenário amplamente favorável para o
açúcar e álcool, levando os empresários do setor a investirem mais no aumento da
capacidade de processamento do que na maior eficiência energética. Isso vale
tanto para as unidades já instaladas quanto para os projetos em fase de
implantação. A maior rentabilidade dos produtos tradicionais, combinada com os
pesados custos dos investimentos em tecnologias mais eficientes para a
co-geração de energia elétrica, tem deixado esse novo negócio em segundo
plano.
Outros dois fatores ajudam a explicar a baixa atratividade dos investimentos
na co-geração de energia elétrica. O primeiro é a falta de experiência com esse
novo negócio, o que dificulta, inclusive, o relacionamento com os clientes. O
segundo, não menos importante, está associado aos custos mais elevados para
tecnologias mais eficientes. Isso tem levado à opção por tecnologias
intermediárias, com caldeiras de 40 ou 60 quilos de vapor, que apresentam
maiores taxas de retorno e menor necessidade de capital imobilizado. O problema
é que como são equipamentos de ciclo de vida relativamente longo, as unidades
poderão passar décadas sub-aproveitando as potencialidades do bagaço.
Desse modo o grande potencial que se abre para o setor requer uma ação
efetiva do Governo no sentido de, estrategicamente, fomentar os investimentos de
forma a contemplar tanto a reversão do processo de concentração espacial da
produção, quanto a busca da maior eficiência energética nos novos projetos e a
modernização das unidades já em operação.
De um lado, são imprescindíveis os investimentos em infra-estrutura,
aumentando a atratividade da implantação de projetos fora das áreas
tradicionais. Destaca-se aí a conclusão dos investimentos no Corredor Norte Sul,
que poderá permitir a consolidação da agroindústria sucroalcooleira como uma
excelente alternativa para os Estados do Maranhão, Piauí e Tocantins, que estão
entre os mais pobres do país.
Do outro a oferta de linhas especiais de
crédito também deve funcionar como indutor de investimentos, aliado à captação
de recursos internacionais. A diferenciação deve contemplar tanto a
possibilidade de incentivos regionais quanto o fomento à utilização de
tecnologias mais eficientes. Os Governos Estaduais, também interessados diretos,
devem ser envolvidos no programa, trabalhando de forma harmônica com o Governo
Federal.
Caso seja atingida a meta de processamento de 610 milhões de toneladas de
cana na safra 2012/13, além da oferta de 36,5 milhões de toneladas de açúcar e
27,4 bilhões de litros de álcool, haverá uma disponibilidade de mais de 160
milhões de toneladas de bagaço. Se todo ele for queimado em caldeiras de alta
pressão, poderá gerar o equivalente a 66 GW de energia elétrica, ou seja, 16,5
mil mega-watts/hora, durante as 4.000 horas médias anuais de safra. Esses
números podem ser ainda mais surpreendentes se considerado o aproveitamento das
palhas e pontas, cuja sua grande maioria ainda é queimada nos canaviais.
Cabe destacar, no entanto, que a produção de energia elétrica é apenas uma
das alternativas. Tal como a gaseificação, que eleva substancialmente a
eficiência da queima do bagaço, alternativas como a produção do álcool por
hidrólise lignocelulósica e até mesmo a produção de biodiesel estão em estudos.
Para alguns especialistas, a melhor remuneração paga pelo mercado de
combustíveis líquidos pode estimular algumas usinas a utilizarem o bagaço para
essas duas finalidades, recorrendo ao gás natural como fonte de energia para o
seu funcionamento.
Esse conjunto de alternativas precisa ser bem avaliado pelos órgãos de
governo. Como são tecnologias novas, com alto custo de implantação e longo prazo
de maturação, é fundamental minimizar os riscos para o investimento privado e,
ao mesmo tempo, maximizar a eficiência dos projetos de investimento. Mecanismos
de mercado, especialmente num sistema de preços livres, podem levar à tomada de
decisões de curto prazo que não reproduzam as melhores alternativas estratégicas
para o país.